Em vésperas do 25 de Abril, um grupo de políticos afastou-se apressadamente da
Acção Nacional Popular para poder reaparecer após a implantação do regime
democrático sob uma nova veste. A agitação posterior revelou que a designação
escolhida — Partido Popular Democrático (PPD) — não era a mais apelativa para se
alçar ao poder. Por isso, a formação recém-criada foi então rebaptizada (com um
erro ortográfico para todo o sempre): Partido Social Democrata (em lugar de
Democrático).
Este grupo de políticos e profissionais liberais, que se
uniu para representar a finança e a grande indústria, atraiu a si as forças
vivas recauchutadas do Estado Novo e as camadas da população atemorizadas pelo
inócuo preâmbulo da Constituição (“abrir caminho para uma sociedade
socialista”): catedráticos e analfabetos, patos bravos e publicistas, chupistas
do Estado e cantores-pimba, negociantes de ocasião e autoridades
locais.
É esta amálgama quase obscena que permite ao PSD aparecer com
sucessivas máscaras — até como pregoeiro da “social-democracia”. A verdade é que
ter ilusões sobre a sua natureza só conduz a deixar a esquerda desarmada. Vê-se
com alguma frequência figuras proeminentes da oposição a fazer apelos ao “velho
PSD” — como o fez João Ribeiro, porta-voz do PS, numa entrevista ao
Expresso na última semana (na resposta reproduzida na imagem
acima).
Acontece que o “velho PSD” anda por aí em peso. Salvo a
circunstância de as suas figuras se gabarem de ser mais competentes do que
estarolas de Passos Coelho, que alterações de política propõem eles?
Nenhumas.
Com efeito, na “Universidade” de Verão do PSD,
Marcelo subiu ao palanque para
serenar as hostes após o chumbo do Tribunal Constitucional, garantindo que se
há-de arranjar forma de despedir os trabalhadores do Estado. Também na
“Universidade” de Verão do PSD,
Alexandre
Relvas, o afamado Mourinho de Cavaco, atiçou, perante o olhar incrédulo
dos jotinhas, os filhos contra os pais, apelando a uma total desregulação do
mercado de trabalho: “
é pais a viverem à conta dos filhos” [
sic],
disse o protegido de Cavaco. No mesmo local,
Leonor
Beleza retomou o apelo do Dr. Relvas à emigração dos jovens.
Santana
Lopes defendeu a necessidade de uma revisão constitucional para o país
poder ter uma “
constituição que seja neutra, que seja isenta e
independente” [
sic], tema agarrado por
Paulo
Rangel para sustentar que a Constituição tem uma “
visão demasiado
conservadora”.
Onde está o “outro” PSD?