20091226

Os Fantasmas do PSD

O realismo fantástico tal como foi elaborado por Louis Pauwels e por Jacques Bergier já não tem audiência e, por isso, a sua aplicação ao domínio da política portuguesa por parte das mentes fantásticas e senis do PSD de Manuela Ferreira Leite parece estar condenada ao fracasso. Depois do caso real do BPN que deu visibilidade a uma extensa teia de corrupção envolvendo figuras ligadas aos governos do PSD, os portugueses adquiriram uma imunidade natural que os protege dos produtos assombrados cuspidos pela imaginação fantástica e fantasmagórica das mentes laranjas desesperadas: asfixia democrática, controle da comunicação social, controle das forças policiais, controle das empresas, maçonaria, freeport, etc., são fantasmas inventados, conspirados e atribuídos pelo PSD ao PS e ao governo de José Sócrates, com o objectivo de difamar e denegrir a imagem do Primeiro-Ministro, bem como a sua imensa obra que arrancou Portugal do marasmo e da inércia. Pacheco Pereira não acredita na teoria da conspiração, porque ele próprio a utiliza para dar visibilidade aos fantasmas do seu partido: os conspiradores negam participar na conspiração que arquitectaram, mas nessa negação confirmam a conspiração em curso que só é travada quando os fantasmas se desfazem sob o efeito da força gravitacional da lei e da verdade.
Pacheco Pereira recorre à noção de escassez para justificar ideologicamente a situação de penúria nacional, restituindo-nos sem disso ter consciência teórica a visão autoritária de Hobbes: a visão do homo homini lupus. Embora Marx e Engels estivessem mais interessados pelo excedente ou pela parte maldita, o conceito de escassez não é completamente estranho ao marxismo. Sartre retomou-o para mostrar que a história real dos homens não é necessária: a história tem como origem e fundamento inteligível um facto contingente, a escassez ou carência de recursos em relação ao número de bocas a alimentar. A ausência de reciprocidade deve-se à escassez que transforma o outro em inimigo. A escassez condena todas as sociedades humanas - e não apenas a sociedade portuguesa, como supõe erradamente Pacheco Pereira - a eliminar uma parte dos seus membros, reais e possíveis, antes de terem nascido ou depois de terem visto a luz do dia. A escassez obscuramente experienciada é interiorizada pelas consciências, criando um clima de violência, no qual decorre toda a história humana. Para Sartre, a inumanidade do homem para o homem tem uma causa historicamente permanente, mas ontologicamente acidental: a escassez não só imprime a inumanidade a todas as relações entre os homens, como também põe em movimento a dialéctica da história. Neste clima de conflito, a praxis individual está imediatamente ameaçada, na sua liberdade, pela praxis dos outros. Cada um de nós é projecto - apreensão global do ambiente em função da situação percebida e da finalidade desejada, mas no seio da escassez não é possível ocorrer a reciprocidade das liberdades: as consciências objectivam-se nas suas obras e esta objectivação torna-se alienação, na medida em que os outros a roubam e falseiam a sua significação, transformando a organização social em coisa - o prático-inerte, à qual os indivíduos se submetem como a uma necessidade material. A antipraxis ou antidialéctica caracteriza todas as relações interindividuais na servidão do prático-inerte, fazendo com que o homem seja o instrumento do homem em todos os lugares do mundo.
Porém, a escassez permite a Sartre transitar do mundo sem esperança, onde a escassez torna os homens inimigos uns dos outros, para um mundo mais solidário, através da superação comum do isolamento das praxis individuais, das suas rivalidades, das suas sujeições recíprocas e do conjunto do prático-inerte. Ora, é precisamente a urgência política desta superação dialéctica do regime da escassez que distingue o PS do PSD: Pacheco Pereira encara a escassez como uma fatalidade natural necessária, da qual não podemos libertar-nos, condenados a nascermos livres e, ao mesmo tempo, a estarmos acorrentados pela escassez em todos os lugares do mundo (Rousseau), enquanto Sartre - na peugada de Hegel e de Marx - concebe a sua superação dialéctica, antecipando a aurora da abundância e da reciprocidade das consciências. A ideologia do PSD, tal como explicitada por Pacheco Pereira, desiste da luta contra a escassez predominante em Portugal e contra o clima de violência que a carência gera materialmente, condenando Portugal à falsa dialéctica da escassez e da conspiração. O PSD de Manuela Ferreira Leite é profundamente reaccionário: o seu único objectivo político é reduzido à mera luta material pelo controle dos escassos recursos nacionais, mediante a conquista do poder político, luta esta que visa eliminar os adversários políticos, falsificando fantasmagoricamente o significado da sua obra, sem levar em conta a possibilidade de um projecto colectivo, em torno do qual as consciências se unam numa vontade comum: a luta por um Portugal liberto da escassez e da conspiração. A luta do PSD não é a luta pela construção de um mundo melhor, mas sim a luta pela manutenção do controle e da concentração dos escassos recursos nacionais por parte de uma família ideológica alargada de clones. O PSD trama conspirações fantásticas para eliminar os seus adversários políticos que têm um projecto verdadeiramente nacional. O PSD gerou quase toda a corrupção nacional que bloqueia o futuro de Portugal. Lutar contra o PSD constitui um imperativo nacional: o nosso futuro depende da derrota eleitoral do PSD de Manuela Ferreira Leite, a assombração de um regime musculado de Direita.
J Francisco Saraiva de Sousa

In: http://cyberdemocracia.blogspot.com/2009/09/os-fantasmas-do-psd.html